Descrição
História: Desde a Antiguidade que o hipericão é considerado uma planta protectora contra vários males físicos, psicológicos e mágicos, sendo frequentemente associado a rituais de mau-olhado e de fertilidade, bem como a feitiços e a magia. Durante as suas cerimónias, os assírios, por exemplo, penduravam-no por cima das portas para se protegerem das tempestades e das almas do outro mundo.
Na Europa da Idade Média, por altura do São João, acendiam-se grandes fogueiras à volta das quais se dançava com grinaldas de hipericão na cabeça. Estas grinaldas eram, de seguida, lançadas para cima dos telhados das casas não só para assegurar colheitas abundantes, mas também para proteger o gado dos feitiços e do mau-olhado. Os guerreiros medievais só eram admitidos nos torneios depois de jurar que não traziam consigo nenhum pé de hipericão, o qual lhes daria uma vantagem desleal.
Não é por acaso que o Hypericum perforatum é tradicionalmente colhido por altura do solstício de verão (21 de junho) ou do São João (24 de junho), datas em que as forças do dia e da noite se equilibram. É, aliás, durante este período que os princípios curativos do hipericão se encontram mais ativos. Ao nível simbólico, as suas flores amarelas e brilhantes representam os raios do sol e estão, portanto, profundamente associadas às colheitas, ao bom tempo e à luz.
Actualmente, já foi demonstrado que o H. perforatum é uma das plantas mais eficazes no combate à depressão, bem como um dos melhores estimulantes do sistema imunológico, sendo usado por milhares de pessoas na Europa e na América. Nos anos 90 do século XX, foi mesmo a planta medicinal mais vendida no Reino Unido, o que se deve com certeza ao facto de a nossa sociedade ser cada vez mais afectada por problemas mentais relacionados com o stress.
Constituintes e Propriedades: Têm sido realizados inúmeros estudos acerca do hipericão e chegou-se à conclusão de que um dos seus constituintes, a hipericina, responsável pela pigmentação vermelha das flores, é fortemente antidepressiva e antiviral, estando inclusive a ser considerada a possibilidade de a planta ser usada no tratamento da SIDA. Não surpreende, por isso, que se recorra ao H. perforatum para combater não só diversos tipos de depressões nervosas, mas também a ansiedade, a inquietação, as insónias a neuralgia, as enxaquecas e os esgotamentos nervosos.
Composto igualmente por glicósidos, flavonóides, taninos, resina e óleos voláteis, o hipericão aumenta a vitalidade, combate as cólicas menstruais e alivia problemas decorrentes de alterações hormonais provocadas pela menopausa.
Trata-se de um importante tónico do sistema nervoso e do fígado, que, por ser diurético, exerce uma acção desintoxicante do organismo, ajudando o corpo a eliminar as toxinas. É, por este motivo, recomendado sob a forma de infusão no tratamento da gota e da artrite. Uma infusão preparada a partir das suas folhas e flores é ainda eficaz como tónico da circulação e como estimulante das glândulas do estômago, do fígado e da vesícula, sendo o seu consumo aconselhado no combate a úlceras nervosas e a doenças gástricas acompanhadas de gases e de azia.
Adstringente do sistema urinário, o hipericão é também útil em casos de incontinência. Externamente, aconselha-se o seu uso sob a forma de compressas ou de óleo, para tratar hemorróidas, varizes e entorses, bem como para cicatrizar e desinfectar feridas. Na verdade, esta planta era já bastante utilizada na Idade Média para curar os ferimentos profundos provados por espadas.
A maceração das flores de H. perforatum em azeite ou em óleo de amêndoa possui diversas potencialidades terapêuticas: use-a em massagens não só para aliviar a dor ciática outras neuralgias afins, mas também para tratar queimaduras, dado que ajuda a reduzir a temperatura da pele. Por fim, quer internamente (três a quatro chávenas de infusão por dia), quer externamente (em lavagens ou através da aplicação de óleo), o hipericão é ainda recomendado no tratamento da zona (herps zóster).
Precauções: Embora ligeiras, há algumas contraindicações ao uso do hipericão, que convém aqui mencionar. Em virtude do seu poder desintoxicante do fígado, não deve ser tomado em conjunto com outros medicamentos químicos, porque o efeito dos mesmos poderá ser anulado ou potenciado, pondo em risco a saúde. Por ser fotossensível, em pessoas de tez mais clara e quando expostas ao sol, o hipericão, devido à sua pigmentação vermelha, poderá causar uma sensibilidade anormal à luz. Além disso, não deve ser ingerido durante a gravidez.
Utilização/Infusão: 2 colheres de sopa num 1L de água fervida durante 5 a 10 minutos.
Bibliografia: BOTELHO, Fernanda. “Uma mão cheia de plantas que curam”. Dinalivro, 2015